terça-feira, 4 de abril de 2017

ENTRE TIGRES E BASTÕES


Em 2016, quando a sexta temporada de The Walking Dead foi encerrada com um cliffhanger cara de pau, muitos fãs já estavam decepcionados com a série apocalíptica do canal norte-americano AMC. As expectativas nos episódios seguintes estavam todas e somente na chegada de Negan, o novo vilão que prometeu atormentar a vida de Rick Grimes e os outros sobreviventes. Agora que chegamos no fim da sétima temporada, a impressão que fica é que a qualidade do seriado entrou em queda livre junto com a sua audiência.
É necessário reconhecer que a estreia da sétima temporada de The Walking Dead ofereceu um dos melhores episódios da série. A brutalidade de Negan e a ousadia em trazer fortes cenas de violência ofereceram um clima desesperador e maduro, mas que logo foi engolido por capítulos focados em personagens desinteressantes -- 40 minutos com a Tara, é sério? A lentidão da temporada é parcialmente compreensível, uma vez que ela se divide entre mostrar a rotina dos Salvadores, grupo liderado por Negan, e apresentar outras comunidades, como O Reino. Mas nada justifica ocupar 16 episódios com um ritmo entediante e que consegue engrenar somente nos últimos minutos.
Contar várias histórias ao mesmo tempo é algo que The Walking Dead sempre tentou fazer, mas a proposta passou dos limites nesta temporada e acabou proporcionando uma narrativa bagunçada. A reviravolta do final poderia ter funcionado muito bem como o capítulo que encerra a primeira metade do ano e, consequentemente, teria oferecido um ritmo muito mais interessante para a guerra entre Alexandria, Hilltop, O Reino e os Salvadores.
Entre vários episódios cansativos, alguns momentos e personagens (novos e veteranos) chamaram a atenção e impediram que The Walking Dead chegasse no fundo do poço. A introdução do Reino, comunidade liderada por Ezekiel com sua tigresa Shiva, traz uma mudança incrível (e quase mágica) para o universo da série -- e, principalmente, acrescentou novos dilemas para os arcos de Carol e Morgan, dois personagens que mereciam muito mais destaque.
Ver Rick impotente por um tempo, enquanto Michonne e Carl estão loucos por vingança, também foi interessante. O trio continua sendo um dos pontos altos da série e ainda há muito potencial para ser explorado -- seria ótimo se um capítulo inteiro não tivesse sido desperdiçado com a Tara. O trunfo da temporada estava nas mãos de Negan, que teve espaço para nos aterrorizar com seu bastão Lucille e felizmente terá muito mais no oitavo ano da série.

O ator Jeffrey Dean Morgan foi capaz de trazer um dos antagonistas mais assustadores da televisão com uma atuação carismática e cheia de sarcasmo. Em todos os momentos, a imprevisibilidade de Negan é capaz de tirar o fôlego dos espectadores, algo que não acontecia em The Walking Dead desde o arco do Governador, mas dessa vez com muito mais intensidade. Todo o clima dentro do Santuário, posto principal dos Salvadores, é bizarra e desconfortável -- algo que o episódio de Eugene é capaz de captar muito bem. No entanto, ainda estamos falando de pouquíssimos bons momentos cercados por uma temporada fraca e duvidosa.
O confronto constante com zumbis não faz tanta falta assim, já que há tempos a série deixou claro que os maiores inimigos são os humanos -- e o confronto de Rick com o morto-vivo cheio de lanças recompensou tudo. O problema também não está em abordar o lado mais humano dos sobreviventes, mas sim em cenas pouco convincentes e o medo da série em continuar ousando como foi feito no episódio de estreia. A lentidão da temporada faz com que a maioria dos episódios pareça filler de animes e, pior ainda, decepciona os fãs que esperavam uma adaptação ao menos tão intrigante quanto nos quadrinhos. Passou da hora de The Walking Dead retomar o ritmo frenético que as primeiras temporadas ofereceram, mas o fato é que ainda há uma porção de personagens chatos para descartar até sermos surpreendidos novamente.






Negan é o verdadeiro Salvador da sétima temporada de The Walking Dead.
O VEREDICTO
A maior ironia da sétima temporada de The Walking Dead é que ela foi salva (em partes) por Negan, o líder da comunidade intitulada como Salvadores. Ao mesmo tempo, Rick, Michonne e Carl continuam sendo a trindade de sobreviventes mais interessantes da série, mas que perdem espaço para personagens que não deveriam estar ali. Nenhum destes pontos foram o suficiente para encerrar a queda livre de The Walking Dead -- que parece não ter fim e está oferecendo mais baixos do que altos. Negan já provou ser capaz de recuperar o fôlego do seriado e trazer as surpresas que os espectadores merecem. Entretanto, nem mesmo um dos vilões mais memoráveis da televisão consegue impedir sozinho que a série caia na mais profunda mesmice.